Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


19 de jul. de 2008

Habeas bancus - Habeas corpus!


Charge Paixão

Operação Satiagraha - Charge Nani


Operação Satiagraha

Revista Época

Dantas e mais nove são indiciados por formação de quadrilha
O banqueiro Daniel Dantas e mais nove pessoas ligadas ao grupo Opportunity foram indiciadas por gestão fraudulenta e formação de quadrilha após depoimento na PF


O banqueiro Daniel Dantas e outras nove pessoas ligadas ao banco Opportunity foram indiciadas nesta sexta-feira (18) por gestão fraudulenta e formação de quadrilha. O grupo prestou depoimento na superintendência da Polícia Federal, em São Paulo, mas permaneceu em silêncio, como determinado pelo advogado do Opportunity, Nélio Machado.
O grupo chegou por volta das 15h na sede paulista da PF e só deixou o local perto das 20h. Cercado por dezenas de jornalistas, Daniel Dantas subiu as escadarias do prédio da PF impassível, e sem se pronunciar. Nélio Machado afirmou que seus clientes não falariam por conta de “vazamentos injustificáveis” que ocorreram no processo. Ele atribuiu os vazamentos a um “triunvirato acusatório” que, segundo ele, é formado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e pelo juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo, que cuida do caso.
Os depoimentos foram colhidos pelo delegado Protógenes Queiroz, que preside o inquérito desde o início, e deve concluí-lo neste fim de semana, para então deixar a investigação a cargo de outro delegado, em uma substituição bastante conturbada. O silêncio de Dantas foi repetido pela terceira vez pelo banqueiro. Nos dois depoimentos anteriores, Dantas se manteve calado também a pedido da defesa.
O indiciamento por gestão fraudulenta é o segundo que recai sobre Dantas depois da operação Satiagraha. O primeiro foi por crime de corrupção. Na quarta-feira (16), Dantas e seus assessores foram denunciados pelo Ministério Público Federal por uma suposta tentativa de suborno do delegado federal Victor Hugo Ferreira. Após 16 dias de negociação, um assessor de Dantas, Humberto Braz, ex-diretor da Brasil Telecom Participações, e o professor universitário Hugo Chicaroni, que estão presos, teriam oferecido R$ 1 milhão para que o delegado tirasse da investigação os nomes do banqueiro, de sua irmã e de outro familiar

Operação Satiagraha: Até tu, Greenhalgh?

Folha de São Paulo
Petistas envolvidos geram desconforto e crítica no partido

O envolvimento de petistas com influência no partido e no governo na Operação Satiagraha gerou desconforto entre dirigentes, que discutirão o tema na próxima reunião da Executiva Nacional em agosto. Os petistas estão incomodados com o fato de a investigação ter chegado perto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil).A atuação do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) como advogado de Daniel Dantas e o uso de sua influência no Planalto para privilegiar clientes é criticada e já há quem defenda nos bastidores seu afastamento do diretório.
A principal queixa é que dirigentes com relevância política já deveriam ter aprendido, com escândalos como o do mensalão, que qualquer fato envolvendo petistas respinga no presidente Lula e agora, em Dilma, ganhando superdimensão.
No partido, a avaliação é que Greenhalgh, o chefe-de-gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, e o deputado José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, tiveram atuação menor, pois o foco da operação era esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teve origem na privatização das teles. "Se o caso for aprofundado, não vai chegar ao PT, mas a outros lugares", disse o deputado Candido Vacarezza (PT-SP).
"Ele [Greenhalgh], como dirigente partidário, não deveria assumir a defesa de pessoas desse tipo. Acho que, quando temos representação política, precisamos ter esse cuidado. Não é de hoje que esse cidadão [Dantas] vem sendo denunciado. Se sabe que é pessoa nefasta, mas não podemos proibi-lo de advogar", disse Raul Pont (RS), do Diretório Nacional.Dirigente ligado à corrente de Greenhalgh, Construindo um Novo Brasil (ex-Campo Majoritário), afirmou que por ora o PT não pedirá, mas seria recomendável que ele se licenciasse.
No PT, a situação de Greenhalgh está sendo comparada à do ex-ministro José Dirceu, que, atingido pelo mensalão, deixou de ser associado a Lula e ao PT. Cardozo, que teria usado prerrogativas do mandato para defender interesses de Dantas, já havia sido cobrado por sua atuação pró-banqueiro quando concorreu a presidente do PT em 2007.

Gatunos na Previdência

Enquanto os gatunos fazem a festa com os recursos da previdência social, o Governo engaveta os processos contra os ladrões.

O Conselho Nacional da Pilantropia Social
tornou-se um antro de ratos comendo o nosso dinheiro. (veja no texto abaixo)

Ratos e Gatunos na Previdência

Do Blog do Josias de Souza

Governo engaveta processos de falsas filantrópicas

Trava-se no ministério da Previdência, longe dos olhares do contribuinte, uma luta do governo contra o governo. Repetindo: o Estado está golpeando a si próprio. A refrega já produziu um prejuízo R$ 2,1 bilhões ao INSS e à Receita Federal. Depois de submetida a atualizações monetárias, a cifra vai aumentar.

É dinheiro devido por 2.063 entidades. Elas se dizem filantrópicas. Mas, em visitas aos seus livros contábeis, fiscais do Estado verificaram que todas praticam benemerência de fancaria.
Antes mesmo das descobertas da Operação Fariseu, inconformado com a concessão de certificados filantrópicos a entidades que não fazem filantropia, o INSS já vinha recorrendo ao ministro da Previdência.

Esse tipo de recurso, endossado pela Receita, está previsto na lei 9.784/99. Daí os 2.063 processos pendentes de um veredicto do titular da Previdência. Num misto de descaso, incúria e inépcia, a pasta da Previdência mantém os processos na gaveta. Estão ali por um período muito superior aos 30 dias previstos em lei. Alguns deles aguardam por uma decisão há mais de cinco anos. Para complicar, o STF decidiu que o prazo de decadência das dívidas fiscais, que o governo imaginava ser uma década, é de cinco anos.

Ou seja, mercê de sua própria negligência, o governo perdeu o direito de cobrar algumas das dívidas escondidas sob as mesas da Previdência. O absurdo assume ares de inaceitável quando se considera que o próprio governo estima em algo como R$ 40,5 bilhões o déficit previdenciário de 2008.

Pela lógica, uma Previdência assim, em petição de miséria, deveria perseguir os calcanhares de seus devedores com a sanha de um gato em perseguição ao rato. Porta-se, porém, com a ligeireza de um cágado manco.

Apresentado ao despautério, o Ministério Público chamou para depor a consultora jurídica da Previdência, Maria Abadia Alves. Deu-se em 7 de maio de 2008. Tocou ao procurador Pedro Antonio de Oliveira Machado a tarefa de ouvir a consultora. Ele integra força tarefa criada para esquadrinhar, junto com a PF, os meandros da filantropia. Ouvida, a consultora jurídica Maria Abadia alegou falta de estrutura para julgar os processos das entidades apontadas como falsas filantrópicas pelos fiscais.

Antes de seguir para a mesa do ministro, os processos têm de passar pela consultoria. Ali, a coisa empaca, segundo a consultora, porque a repartição não dispõe de: “Chefe de gabinete, assessores e contadores”. O apoio administrativo também “é insuficiente”: quatro servidores. Que “não têm capacitação para a elaboração de expedientes corriqueiros.” Quanto à lotação de advogados, o quadro considerado ideal pelo governo seria de 27 profissionais. A consultoria jurídica da Previdência dispõe só de 14. Segundo Maria Abadia, ainda na época em que o ministro da Previdência era Luiz Marinho (PT-SP), enviou-se à AGU (Advocacia Geral da União), em abril, ofício requisitando pelo menos 3 contadores.

De resto, foram endereçados à AGU, a quem cabe prover a estrutura das consultorias jurídicas dos ministérios, outros quatro ofícios solicitando mais advogados. E nada. Diante do quadro esboçado pela consultora Maria Abadia, o procurador Pedro Machado remeteu, por intermédio do procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza, um ofício à AGU. No texto, o procurador da República dá prazo de dez dias para a adoção de providências saneadoras.

O blog fez contato com a AGU. O órgão esquivou-se de comentar a encrenca. Alegou que, até o momento, não recebeu a correspondência do procurador da República. O repórter contatou também o ministério da Previdência. Pediu para falar com o ministro ou com a consultora jurídica. Não obteve resposta. Compreensível. É duro encontrar explicação para o inexplicável?

A despeito do veredicto dos fiscais, as pseudofilantrópicas obtiveram no CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) um certificado que as mantém no maravilhoso mundo da isenção tributária. O CNAS é um órgão que pende do organograma do ministério do Desenvolvimento Social. Encontra-se sob investigação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Em operação que levou o apelido de “Fariseu” e foi deflagrada no último mês de março, detectaram-se indícios de que o colegiado foi carcomido pela corrupção. Os detalhes do caso foram noticiados aqui.

Ratos no Tribunal de Contas de Minas Gerais


DEU NO JORNAL DO BRASIL

Cúpula do TCE de Minas é indiciada


Conselheiros são acusados de não apurar contratos com prefeituras


Os três conselheiros que formam a cúpula do Tribunal de Contas do Estado (TCE) de Minas Gerais – presidente, vice-presidente e corregedor – foram informados, ontem, pela Polícia Federal, que estão indiciados na Operação Pasárgada, sob a suspeita de corrupção passiva, prevaricação e formação de quadrilha. Eles se mantiveram em silêncio durante depoimento.
O próprio corregedor do órgão, conselheiro Antônio Carlos Andrada, anunciou, após a saída da PF do prédio do TCE, o comunicado da polícia. Além dele, foram indiciados o presidente Elmo Braz e o vice-presidente Wanderley Ávila. Os três são ex-deputados.


18 de jul. de 2008

Justiça Cega




Até tu, Greenhalgh!

De advogado de presos político a lobista de banqueiro!

Investigadores monitoraram conversas do advogado de Dantas interessado em saber sobre o inquérito contra o banqueiro. O petista tentou se encontrar com José Dirceu supostamente para tratar do assunto
Marcelo Rocha Enviado especial

Em 2 de abril, a pedido da Polícia Federal, a Justiça Federal de São Paulo quebrou o sigilo telefônico de dois celulares usados pelo ex-deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, identificados como “Jacu 2” e “Jacu 3”.
A partir do monitoramento das chamadas realizadas por esses aparelhos, os responsáveis pela Operação Satiagraha concluíram que o advogado petista recorreu ao ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para ajudar nos interesses do banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity. É o que descreve relatório de interceptação telefônica nº 10/2008-STG, feito sob a coordenação da delegada Karina Murakami Souza e anexado ao inquérito da Satiagraha
“Greenhalgh está contatando com José Dirceu para conseguir (ainda não se sabe como) mais informações sobre o procedimento investigativo contra os integrantes do Grupo Opportunity”, afirma o documento. A anotação decorre da análise de um telefonema feito por Greenhalgh na tarde de 8 de maio. O ex-deputado ligou para a JD Assessoria, escritório de Dirceu, na Rua Sena Madureira, em São Paulo, e conversou com um tal Rodrigo. De acordo com a transcrição da PF, o funcionário da JD disse ao advogado que dependeria de alguém, cujo nome não foi escrito no documento, terminar uma viagem para definir o encontro.
A suspeita de que Greenhalgh teria buscado a ajuda de Dirceu, na interpretação da PF, foi reforçada por outras ligações também incluídas no relatório policial. No dia seguinte, hora do almoço, o advogado falou ao telefone com Evanise Santos. Namorada de Dirceu e funcionária do Palácio do Planalto, Evanise comunicou ao advogado a chegada do ex-ministro a Brasília, onde os dois petistas se reuniriam no aeroporto. Nessa época, segundo o inquérito, Greenhalgh se movimentava para descobrir nos tribunais em Brasília e São Paulo, e também na Polícia Federal, detalhes da investigação em andamento contra o dono do Opportunity. Afastado do governo Lula desde o primeiro mandato, Dirceu desfruta da fama de ainda hoje ter influência nos gabinetes da capital do país e de ter emplacado o delegado Luiz Fernando Corrêa na direção da PF.
Em nota, o ex-deputado, que teve o pedido de prisão negado pela Justiça, informou que desconhece as razões que motivaram o envolvimento de seu nome na Satiagraha e que foi contratado por Dantas para assisti-lo na qualidade de advogado criminalista. Procurada pelo Correio, a assessoria de José Dirceu reafirmou declarações anteriores do ex-ministro de que sua ligação com Greenhalgh é histórica, com origem na militância partidária, e que não atuou em defesa de assuntos de interesse do Opportunity.

Banqueiros na cadeia



O impeachment de Gilmar Mendes




O impeachment como remédio tem apoio na Constituição


A evocação é inevitável. Quando o nome do advogado-geral da União, Gilmar Mendes, foi encaminhado ao Senado, para ocupar uma das cadeiras do STF, muitos manifestaram estranheza. O libelo mais forte coube ao professor Dalmo Dallari. Em artigo publicado antes da votação, o mestre paulista advertiu que, aprovado o nome do advogado-geral da União, estariam "correndo sério risco a proteção aos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional". Dallari lembrou que Gilmar, derrotado no Judiciário, "recomendou aos órgãos do Poder Executivo que não cumprissem as decisões judiciais". Outro caso, lembrado por Dallari, foi o de que a Advocacia-Geral da União, cujo titular era Gilmar, havia pago R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual o atual presidente do STF era um dos proprietários, a fim de que seus subordinados ali fizessem cursos.

Advogados, como o ex-presidente da OAB Reginaldo de Castro, e alguns jornalistas, entre eles este colunista, consideraram que faltavam ao indicado títulos para a alta posição. O fato de haver freqüentado universidades estrangeiras não era recomendação suficiente. Inúmeros ostentam este mesmo título. Há, mesmo, os que se fizeram professores em renomados centros universitários europeus e americanos, e nem por isso foram convocados à alta magistratura nacional. Sua carreira era relativamente curta. A muitos incomodava o comprometimento com o governo Collor – a quem serviu, na Secretaria da Presidência, até o impeachment – e com o de Fernando Henrique. Com Itamar no Planalto, o senhor Gilmar Mendes se transferiu para o Poder Legislativo.

Cabia ao advogado, no governo de Fernando Henrique, examinar e redigir os projetos de lei e medidas provisórias. Algumas dessas medidas foram consideradas inconstitucionais e, com ligeiras modificações, reeditadas. O mais grave é que ele se encontrava subjudice, processado por improbidade administrativa – conforme a denúncia de Dallari – quando seu nome foi levado à Comissão de Justiça do Senado para ocupar a vaga no Supremo. O fato foi comunicado à Câmara Alta, mas o rolo compressor do governo quebrou a resistência da maioria dos senadores. Ainda assim, seu nome foi recusado por 15 parlamentares. Normalmente não há tão expressiva manifestação contrária às indicações presidenciais para o STF. A Associação dos Magistrados Brasileiros também se opôs à sua nomeação. Mais ainda: o Ministério Público questionara, antes, a presença de Gilmar, que pertencia a seus quadros, na Advocacia-Geral da União.

Permito-me citar trecho de artigo que publiquei no Correio Braziliense, no dia mesmo em que o nome do advogado Gilmar Mendes foi levado à Comissão de Constituição e Justiça do Senado:
"De um juiz se pede juízo. O advogado-geral da União excedeu-se no desempenho de suas funções, e excedeu-se também nas relações necessárias com o Poder Judiciário e com o Ministério Público. A firmeza na defesa dos atos governamentais, e das teses jurídicas em que eles possam sustentar-se, não permite o desrespeito para com os que tenham posição diferente. O senhor Gilmar Mendes poderia criticar, com alguma razão, o desempenho do Poder Judiciário, desde que ele atribuísse a deficiência ao acúmulo de leis confusas e conflitantes, situação constatada por todos os magistrados, e o fizesse em termos serenos. Mas se esqueceu o aclamado jurista de que tais leis, em sua maioria, procedem da incompetência do próprio Poder Executivo, a maior fonte legislativa destes últimos anos, com suas medidas provisórias, portarias, decretos, normas – e memorandos". Até aqui o texto de maio de 2002.

Quando Gilmar, como advogado-geral da União, recomendou aos órgãos públicos que não cumprissem ordens judiciais, excluiu-se eticamente do direito de pertencer ao Poder Judiciário.
Soube-se ontem à noite que um grupo de cidadãos de São Paulo se articula para pedir ao Senado Federal o impeachment do ministro Gilmar Mendes, de acordo com o artigo 39, item V da Constituição Federal, combinados com os artigos 41 e 52, II, da Carta Maior. Conforme dispõe a Constituição, qualquer cidadão, de posse de seus direitos políticos, pode solicitar o impeachment de um membro do Supremo.

Mauro Santayana é jornalista e publicitário.
Texto originalmente publicado no Jornal do Brasil, edição de 14/07/2008.

Quem conhece bem o Gilmar Mendes

Maio de 2002 - O ovo da serpente estava chocando... Em 8 de maio de 2002, quando GIlmar Mendes estava para ser nomeado por FHC para o STF, o jurista e professor Dalmo de Abreu Dallari foi profético, em artigo escrito na Folha de São Paulo:

SUBSTITUIÇÃO NO STF

Degradação do Judiciário
Nenhum Estado moderno pode ser considerado democrático e civilizado se não tiver um Poder Judiciário independente e imparcial, que tome por parâmetro máximo a Constituição e que tenha condições efetivas para impedir arbitrariedades e corrupção, assegurando, desse modo, os direitos consagrados nos dispositivos constitucionais. Sem o respeito aos direitos e aos órgãos e instituições encarregados de protegê-los, o que resta é a lei do mais forte, do mais atrevido, do mais astucioso, do mais oportunista, do mais demagogo, do mais distanciado da ética.
Essas considerações, que apenas reproduzem e sintetizam o que tem sido afirmado e reafirmado por todos os teóricos do Estado democrático de Direito, são necessárias e oportunas em face da notícia de que o presidente da República, com afoiteza e imprudência muito estranhas, encaminhou ao Senado uma indicação para membro do Supremo Tribunal Federal, que pode ser considerada verdadeira declaração de guerra do Poder Executivo federal ao Poder Judiciário, ao Ministério Público, à Ordem dos Advogados do Brasil e a toda a comunidade jurídica.
Se essa indicação vier a ser aprovada pelo Senado, não há exagero em afirmar que estarão correndo sério risco a proteção dos direitos no Brasil, o combate à corrupção e a própria normalidade constitucional. Por isso é necessário chamar a atenção para alguns fatos graves, a fim de que o povo e a imprensa fiquem vigilantes e exijam das autoridades o cumprimento rigoroso e honesto de suas atribuições constitucionais, com a firmeza e transparência indispensáveis num sistema democrático.
Segundo vem sendo divulgado por vários órgãos da imprensa, estaria sendo montada uma grande operação para anular o Supremo Tribunal Federal, tornando-o completamente submisso ao atual chefe do Executivo, mesmo depois do término de seu mandato. Um sinal dessa investida seria a indicação, agora concretizada, do atual advogado-geral da União, Gilmar Mendes, alto funcionário subordinado ao presidente da República, para a próxima vaga na Suprema Corte.
Além da estranha afoiteza do presidente -pois a indicação foi noticiada antes que se formalizasse a abertura da vaga-, o nome indicado está longe de preencher os requisitos necessários para que alguém seja membro da mais alta corte do país. É oportuno lembrar que o STF dá a última palavra sobre a constitucionalidade das leis e dos atos das autoridades públicas e terá papel fundamental na promoção da responsabilidade do presidente da República pela prática de ilegalidades e corrupção.
A comunidade jurídica sabe quem é o indicado e não pode assistir calada e submissa à consumação dessa escolha inadequada. É importante assinalar que aquele alto funcionário do Executivo especializou-se em 'inventar' soluções jurídicas no interesse do governo. Ele foi assessor muito próximo do ex-presidente Collor, que nunca se notabilizou pelo respeito ao direito. Já no governo Fernando Henrique, o mesmo dr. Gilmar Mendes, que pertence ao Ministério Público da União, aparece assessorando o ministro da Justiça Nelson Jobim, na tentativa de anular a demarcação de áreas indígenas. Alegando inconstitucionalidade, duas vezes negada pelo STF, 'inventaram' uma tese jurídica, que serviu de base para um decreto do presidente Fernando Henrique revogando o decreto em que se baseavam as demarcações.
Mais recentemente, o advogado-geral da União, derrotado no Judiciário em outro caso, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem decisões judiciais. Medidas desse tipo, propostas e adotadas por sugestão do advogado-geral da União, muitas vezes eram claramente inconstitucionais e deram fundamento para a concessão de liminares e decisões de juízes e tribunais, contra atos de autoridades federais. Indignado com essas derrotas judiciais, o dr. Gilmar Mendes fez inúmeros pronunciamentos pela imprensa, agredindo grosseiramente juízes e tribunais, o que culminou com sua afirmação textual de que o sistema judiciário brasileiro é um 'manicômio judiciário'. Obviamente isso ofendeu gravemente a todos os juízes brasileiros ciosos de sua dignidade, o que ficou claramente expresso em artigo publicado no 'Informe', veículo de divulgação do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (edição 107, dezembro de 2001).
Num texto sereno e objetivo, significativamente intitulado 'Manicômio Judiciário' e assinado pelo presidente daquele tribunal, observa-se que 'não são decisões injustas que causam a irritação, a iracúndia, a irritabilidade do advogado-geral da União, mas as decisões contrárias às medidas do Poder Executivo'. E não faltaram injúrias aos advogados, pois, na opinião do dr. Gilmar Mendes, toda liminar concedida contra ato do governo federal é produto de conluio corrupto entre advogados e juízes, sócios na 'indústria de liminares'.
A par desse desrespeito pelas instituições jurídicas, existe mais um problema ético. Revelou a revista 'Época' (22/4/ 02, pág. 40) que a chefia da Advocacia Geral da União, isso é, o dr. Gilmar Mendes, pagou R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público -do qual o mesmo dr. Gilmar Mendes é um dos proprietários- para que seus subordinados lá fizessem cursos. Isso é contrário à ética e à probidade administrativa, estando muito longe de se enquadrar na 'reputação ilibada', exigida pelo artigo 101 da Constituição, para que alguém integre o Supremo. A comunidade jurídica sabe quem é o indicado e não pode assistir calada e submissa à consumação dessa escolha notoriamente inadequada, contribuindo, com sua omissão, para que a arguição pública do candidato pelo Senado, prevista no artigo 52 da Constituição, seja apenas uma simulação ou 'ação entre amigos'. É assim que se degradam as instituições e se corrompem os fundamentos da ordem constitucional democrática.
 
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