Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


14 de out. de 2006

Servidor é sempre o palhaço


Reajustes mais modestos

Coordenador da campanha do PT afirma que aumentos para servidores serão menores em eventual segundo mandato de Lula

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva for reeleito, a administração pública passará por uma “política gradual de corte nos gastos públicos”. A informação foi dada ontem pelo coordenador nacional da campanha de Lula, Marco Aurélio Garcia, em respostas às críticas da oposição de que o atual governo elevou as despesas com a máquina pública e que pode comprometer o ajuste fiscal necessário para a queda nas taxas de juros e o crescimento econômico.
Entre as medidas a serem adotadas a partir de 2007 está a redução no ritmo dos reajustes de salários do funcionalismo. A recuperação dos ganhos das principais categorias já aconteceu nos primeiros quatro anos do governo Lula. “Os aumentos para servidores públicos devem ocorrer num ritmo mais lento do que na gestão atual. Nós não vamos mais precisar dar esses pinotes que foram necessários para atender à qualidade do funcionalismo público”, explicou. Garcia espera que, com a economia estabilizada e as reposições salariais das principais categorias típicas de Estado já feitas pelo governo “as categorias passarão a ter aumentos normais” de salários. O coordenador da campanha petista tratou do assunto em resposta aos economistas da oposição que criticam a elevação nos gastos com a máquina administrativa pelo governo Lula, principalmente com a contratação de novos funcionários e a elevação de seus salários. Segundo Garcia, os aumentos salariais já concedidos ajudaram a melhorar a prestação dos serviços públicos. “Os reajustes concedidos faziam parte de um plano de reestruturação das carreiras de 1,7 milhão dos 2 milhões de servidores públicos brasileiros – entre ativos, inativos, civis e militares”, disse o coordenador.

Charge do Dia 1 - Paixão



Esta charge do Paixão foi feita originalmente para o GAZETA DO POVO

Charge do Dia 1 - Aroeira



Esta charge do Aroeira foi feita originalmente para o O DIA

13 de out. de 2006

Leitores do Vermelho dão vitória a Alckmin no debate

Resultado
Quem ganhou o debate Lula-Alckmin na Band?

Total de votos - 4241

Alckmin, graças à agressividade 62%

Lula, graças à tranqüilidade 29%

Empatou; quero ver o próximo 4%

Alckmin golpeou abaixo da cintura 2%

Lula não respondeu à corrupção 2%

Link para o Vermelho

Assombração no Senado!


Collor visita Senado, mas evita comentar apoio ao presidente Lula

Mesmo com o Congresso Nacional vazio depois do feriado, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB), senador eleito pelo Estado de Alagoas, causou tumulto na manhã desta sexta-feira ao visitar pela primeira vez o Senado Federal desde que foi eleito.
De mãos dadas com a mulher, Caroline Medeiros, Collor visitou o plenário do Senado, o corredor das comissões e o gabinete do senador Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO), considerado um dos mais bem localizados no Senado.
Cercado por jornalistas, Collor não quis dar entrevista. Disse apenas que estava visitando o futuro local de trabalho, mas evitou comentar seu apoio à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O senador eleito também não quis responder sobre a visita ao Congresso que, há 14 anos, aprovou pedido de impeachment da Presidência da República.

Rastros do Dinheiro

Folha On Line - 13/10/2006
Procuradoria quer quebrar sigilos de Freud Godoy


O Ministério Público Federal pedirá à Justiça a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-assessor da Presidência da República Freud Godoy, de sua mulher, Simone Messeguer Godoy, e da empresa dela, Caso Sistemas de Segurança. O alvo do pedido serão a movimentação financeira e as operações tributáveis declaradas ao Imposto de Renda no último ano.
A justificativa: conforme divulgado pela imprensa, em 24 de março, Freud teria sacado R$ 150 mil em dinheiro; em setembro deste ano, por meio da empresa Caso, o investidor Naji Nahas teria feito um crédito em favor do ex-assessor da Presidência no valor de R$ 396 mil. Freud teve seu nome envolvido na negociação para pagar R$ 1,75 milhão por um dossiê contra o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), então candidato. Quem fez a referência a Freud foi o agente de Polícia Federal aposentado Gedimar Passos. Em depoimento, Gedimar disse que o ex-assessor da Presidência participou da entrega do dinheiro, que acabou sendo apreendido pela PF no dia 15 de setembro, no hotel Ibis Congonhas, em São Paulo.
Freud deixou o cargo na Presidência tão logo seu nome foi envolvido no caso.Em seu primeiro depoimento, Gedimar colaborou com informações, apesar de parcialmente truncadas. Posteriormente, passou a dizer que voltaria a se pronunciar sobre caso somente em juízo. Nega-se até a discutir o assunto com colegas da PF, que têm insistido para que colabore.
Ao Tribunal Superior Eleitoral, que conduz um procedimento relativo às implicações eleitorais da negociação do dossiê, os advogados de Gedimar informaram que ele apontou o nome de Freud em seu primeiro depoimento à PF porque foi coagido. Ao recuar, tentava retirar a única referência a Freud que foi feita até agora na investigação do caso.Em Cuiabá, a PF segue o cruzamento de dados relacionados à quebra de sigilos telefônicos dos envolvidos e às operações financeiras por meio das quais teriam circulado os dólares e reais que seriam utilizados no negócio.

Chage do Dia II - Pelicano


Esta charge do Pelicano foi feita originalmente para o Bom Dia (SP)

Chage do Dia I - Paixão


Esta charge do Paixão foi feita originalmente para o Gazeta do Povo

Veneno do Cláudio Humberto


Cabideiro

O pessoal de Lula não teme que Alckmin, se eleito, privatize a Petrobras, a Caixa e o Banco do Brasil. O medo é que ele “despetize” as estatais.






Link para o Blog do Cláudio Humberto

Tendências?


Renata Lo Prete

A curva pró-Lula

ASSIM COMO se revelou infundada a expectativa oposicionista de que o desempenho de Alckmin no debate pudesse reativar o movimento ascendente que o colocou no segundo turno, também carece de base real a teoria lulista segundo a qual o programa de domingo passado seria o responsável pela ampliação da vantagem do presidente, detectada pelo Datafolha e endossada ontem pelo Ibope.
Vá lá que o tucano tenha incorrido em algum exagero no tom escolhido para se dirigir ao adversário, impressão potencializada pelo contraste com a imagem polida que projetou ao longo de sua trajetória política. Ainda que não admita de público, a própria campanha identificou esse estranhamento, especialmente nos dois primeiros blocos, em pesquisa com grupos que acompanharam o programa.
No essencial, porém, o debate serviu para o que geralmente serve esse gênero de confronto televisivo: cristalizar percepções prévias do eleitor. As respostas à bateria de perguntas do Datafolha sobre atributos dos candidatos mostram que qualidades e defeitos conferidos a Lula e a Alckmin se acentuam na ótica dos eleitores que assistiram ao programa. Assim, o desempenho de Alckmin tende a ser considerado "firme" por quem já o aprovava e/ou desaprovava Lula e "autoritário" ou mesmo "fascista" -na propaganda do ministro Tarso Genro- por quem está com o presidente e não abre. Debate serve também como matéria-prima para o horário gratuito, no qual seu conteúdo é editado ao gosto do freguês.
Ontem, na hora do almoço, Lula estreou com um condensado em que não havia vestígio de seu atordoamento inicial, evidente até para aliados presentes no estúdio da Band, com as perguntas do adversário. Pelo contrário, parecia ter todas as respostas. O "clipe" de Alckmin, por sua vez, manteve o bordão principal de sua ofensiva ("Lula, de onde veio o dinheiro para pagar o dossiê fajuto?"), mas deixou de fora outros momentos de cobrança em troca de enfatizar o que não havia sido a tônica do candidato no programa: dizer o que fará se chegar à Presidência da República.
Menos do que um ponto de inflexão, contra Alckmin ou a favor de Lula, o primeiro debate do segundo turno aconteceu dentro de uma onda que já vinha favorável ao petista -vide o Datafolha anterior-, basicamente devido ao esfriamento do escândalo do dossiê. Completando o quadro de dificuldades de Alckmin, sua campanha se viu obrigada pelo discurso do adversário a recuar para uma atitude defensiva. Neste momento, gasta boa parte do tempo negando que vá privatizar, cortar benefícios sociais e seqüestrar crianças. A esperança de Alckmin é que a pergunta-mãe do caso do dossiê volte para o centro do noticiário.

Link para Folha de São Paulo - Assinantes

Morde e Assopra!

Folha de São Paulo 13/10/2006
Campanha de Lula ataca a família de Alckmin e recua

Partido cita mulher e filha de adversário em boletim e depois pede desculpas
Presidente abre propaganda eleitoral dizendo que não desejava "baixaria"; Marco Aurélio Garcia afirma que ataque foi "inapropriado"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva abriu sua propaganda eleitoral dizendo que não desejava "baixaria", os sites na internet do PT e de sua campanha divulgaram um boletim com ataques a familiares do tucano Geraldo Alckmin. No final da tarde de ontem, o PT pediu desculpas em nota assinada pelo presidente da legenda e coordenador da campanha, Marco Aurélio Garcia.
Retirado do ar por ordem de auxiliares de Lula, o texto "O telhado de vidro de Alckmin" atacava Sofia e Lu Alckmin, respectivamente a filha e a mulher do tucano. O boletim criticava ainda veículos de comunicação e acusava o tucano de "hipocrisia e moralismo de ocasião"."Alckmin não deveria colocar o debate neste nível [sobre saber ou não de irregularidades]. Afinal, alguém poderia perguntar se ele sabia que sua filha era funcionária de uma empresa acusada de contrabando, a Daslu, ou se tinha conhecimento [de] que sua esposa ganhou de presente 400 vestidinhos chiques", diz o texto.
Em 2005, a PF prendeu a dona da Daslu sob acusação de evasão de divisas e contrabando.O texto foi retirado do site da campanha às 12h40 por determinação de um auxiliar do presidente, que falou com Garcia. Às 15h49, o site do PT reproduziu o texto, que seria retirado meia hora depois por orientação do presidente do PT.
Responsável pela área de internet da campanha e secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar disse que foi o autor do boletim. "Eu passei da mão. O Lula não aprovou a referência aos familiares e elas foram retiradas. O texto deverá voltar a ser divulgado sem essas menções", disse.
Por determinação de Lula, Pomar redigiu nota assinada por Garcia e que foi divulgada às 17h39 no site do PT. Ela dizia que o presidente, o partido e seus aliados consideravam "totalmente inadequado, inapropriado e lamentável lançar mão de ataques pessoais envolvendo os candidatos ou suas famílias". A nota afirmou que Lula sofrera ataques semelhantes em campanhas passadas. "Exatamente por isso, consideramos incorretas e nos desculpamos publicamente pelas referências feitas -em um boletim da campanha- a familiares do candidato da oposição."
Segundo relato de auxiliares diretos à Folha, Lula ficou contrariado quando soube do episódio por volta das 13h e deu ordem para que as informações do site de sua campanha passem pelo controle prévio do marqueteiro João Santana.
Na avaliação de Lula, ataques desse tipo poderiam colocar em risco a sua reeleição, pois vitimizariam Alckmin e poderiam resultar num contra-ataque à sua família. Lula teme que o PSDB lance suspeitas sobre a empresa de um filho seu, Fábio Luiz, que recebeu da Telemar um aporte de recursos no valor de R$ 10 milhões. No debate da TV Bandeirantes no último domingo, apesar do tom agressivo do evento, o petista e o tucano deixaram os parentes fora da disputa.

12 de out. de 2006

Mercadante Mercador

UOL Eleições 2006

PF quer ouvir Mercadante sobre dossiê contra tucanos

Por Áureo Germano

A Polícia Federal pretende ouvir o depoimento do senador Aloizio Mercadante, candidato do PT derrotado ao governo de São Paulo, nas investigações sobre a tentativa de negociação do dossiê contra políticos tucanos.
Uma fonte ligada à investigação afirmou à Reuters, sob a condição de anonimato, que a partir da descoberta de fortes indícios da participação de seu ex-coordenador de campanha Hamilton Lacerda na tentativa de aquisição dos documentos, os investigadores se convenceram da necessidade de ouvir o parlamentar sobre o suposto envolvimento de seu comitê eleitoral no caso."É preciso saber até onde vai o conhecimento do senador a respeito do envolvimento de seu (ex-)coordenador no caso", explicou a fonte.
Hamilton foi flagrado pelo sistema de vídeo de um hotel de São Paulo transportando uma bolsa na qual a PF suspeita que estaria parte dos cerca de 1,7 milhão de reais --apreendidos com Gedimar Passos e Valdebran Padilha, ligados ao PT-- que seriam utilizados na aquisição do dossiê.

Link para reportagem completa - site do UOL

11 de out. de 2006

Mais uma, Maluf!

Última instância - Revista Jurídica

Justiça paulista condena Paulo Maluf por improbidade administrativa

A juíza de direito Silvia Maria Meirelles Novaes de Andrade, da 12ª Vara da Fazenda Pública de São Paulo, condenou Paulo Maluf, ex-prefeiro de São Paulo, por improbidade administrativa. A decisão suspende seus direitos políticos por dez anos, mas a pena só pode ser aplicada quando a sentença transitar em julgado (todos os recursos possíveis esgotados). O futuro deputado federal já possui uma condenação transitada em julgado, de março de 2001.
Na prática, Maluf poderá assumir o cargo de deputado federal em 1º de janeiro de 2007, para o qual foi eleito com 739.827 votos. O ex-prefeito também está condenado a pagar multa cível equivalente a três vezes à vantagem patrimonial auferida, atualizada para a data do pagamento, bem como ao pagamento das despesas processuais. Cabe recurso de apelação ao Tribunal de Justiça de São Paulo.De acordo com informações do Ministério Público, a ação foi proposta em 24 de julho 1996 pela Promotoria de Justiça da Cidadania de São Paulo. A promotoria afirma que Maluf, recém-eleito deputado federal, teria se utilizado da máquina pública para promoção pessoal.
A advogada Patrícia Rios, uma das defensoras de Maluf na área cível, afirma que vai recorrer da decisão e que o ex-prefeito "é um cidadão no pleno gozo de seus direitos, tanto que vai assumir seu cargo de deputado federal no dia 1º de janeiro de 2007". Ela também afirmou que, assim que Maluf assumir suas novas funções em Brasília, seu eventual recurso automaticamente passará a correr no Supremo Tribunal Federal, já que os deputados federais têm foro privilegiado.
Enquanto prefeito, Maluf teria, às custas dos cofres municipais, determinado a promoção de campanhas publicitárias por meio de outdoors e de publicações na imprensa televisiva, utilizando-se de seu símbolo pessoal, um trevo vermelho formado por quatro corações simétricos, criado especialmente para suas campanhas político-eleitorais.
De acordo com o Ministério Público, o objetivo dessa medida seria o claro e ostensivo objetivo de promoção pessoal com dinheiro público, o que desrespeitaria o artigo 37, §1º, da Constituição. A ONG Transparência Brasil, que faz um acompanhamento da atuação dos políticos no país, informa que tramitam contra o ex-prefeito dois processos de interesse da Promotoria da Cidadania paulista sobre o desvio de dinheiro na construção da Avenida Águas Espraiadas. O processo cível, no qual os bens de Maluf foram bloqueados, corre na 4ª Vara da Fazenda Pública; o criminal corre na 2ª Vara Federal Criminal e resultou na retenção de seu passaporte.

Link para a reportagem completa

Charge do dia - Aroeira

Pinóquios

CLÓVIS ROSSI

Mentiras e indigência

Durante a campanha eleitoral de 2002, Ciro Gomes vinha subindo nas pesquisas até enroscar-se na própria língua: começou a contar mentiras, rapidamente desmascaradas, e caiu até ficar atrás de Anthony Garotinho na hora da contagem de votos. Eram pequenas mentiras, como a de jurar que estudara a vida inteira em escolas públicas, o que se provou falso. Mas parece que o eleitorado se deu conta de quem conta pequenas mentiras pode também contar grandes mentiras e, por extensão, é inconfiável para governar o país (ou o que quer que seja).
Se os votantes aplicassem idêntico critério para os dois candidatos remanescentes em 2006, o país ficaria sem presidente. Afinal, como a Folha mostrou ontem, tanto Luiz Inácio Lula da Silva como Geraldo Alckmin contaram mentiras -e grandes mentiras, não as pequenas que desclassificaram Ciro há quatro anos.
A principal mentira diz respeito, em ambos os casos, a crescimento econômico, dado fundamental para o pobre país tupiniquim. Lula "chutou" alto, bem de acordo com a megalomania que o caracteriza, ao dizer que nunca, nos últimos 20 anos, o país crescera tanto. Falso, mostrou a Folha ontem. Alckmin disse que São Paulo é que cresceu mais que a média nacional. Igualmente falso, como igualmente mostrou a Folha ontem.
Digo que é a principal mentira porque, se ambos estão satisfeitos com o desempenho econômico do país que um governa e do Estado que o outro governou, estamos todos roubados. Afinal, o crescimento da renda per capita do Brasil no século 21 foi de indigente 0,8% na média anual. O século 21 dividiu-se igualmente entre os irmãos-inimigos PT e PSDB. Se ambos festejam a indigência, seria melhor mesmo que ninguém se elegesse. O país talvez caminhasse com mais garbo.
crossi@uol.com.br

Link para Folha de São Paulo: assinantes

Um dos chefe da quadrilha

Correioweb - 11/10/2006
CPI acredita que Berzoini mandou comprar dossiê
Ugo BragaDo Correio Braziliense 11/10/200607h20-

O delegado Diógenes Curado, responsável pelo inquérito aberto pela Polícia Federal para investigar o caso do dossiê tucano, já tem montada uma história com começo, meio e fim sobre o caso. Segundo contou à comitiva de deputados da CPI dos Sanguessugas mandada a Cuiabá na segunda-feira, a operação não era uma tentativa desesperada de virar a eleição paulista na reta final da campanha. Ao contrário, começou antes mesmo de agosto. E teve participação ativa da cúpula da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição.
Pela versão atribuída à PF mato-grossense, a trama do dossiê partiu do então diretor de gestão de risco do Banco do Brasil, Expedito Antônio Veloso. Ele teria reunido informações comprometedoras sobre a relação dos sanguessugas com o empreiteiro paulista Abel Pereira. Este é muito próximo do último ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso, o tucano Barjas Negri, hoje prefeito de Piracicaba (SP). E seria o laranja no pagamento de propinas a Negri. Era a prova que o PT procurava para jogar a máfia dos sanguessugas no colo da gestão anterior.
Uma vez confirmada, Expedito a teria passado a Jorge Lorenzetti, amigo pessoal, churrasqueiro preferido do presidente da República e chefe do grupo de análise de risco da campanha. Lorenzetti assumiu a operação do caso. Já portando as informações sobre os elos dos sanguessugas com o PSDB, Expedito Veloso foi três vezes a Cuiabá no mês de agosto. Negociou pessoalmente com Luiz Antônio Vedoin o preço e o conteúdo do dossiê, assim como uma entrevista dele atestando a papelada a algum veículo de amplitude nacional. Lorenzetti o acompanhou em duas dessas viagens. Animado com o que viu, Lorenzetti teria negociado o preço do dossiê (que baixou de R$ 20 milhões para R$ 2 milhões) e informado ao então presidente do PT, Ricardo Berzoini, que valia a pena comprá-lo. Recebeu deste sinal verde e foi a luta.

Reflexos do debate?

Lula amplia vantagem sobre Alckmin, diz Datafolha

Folha Online

A primeira pesquisa Datafolha após o debate na TV entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB), realizado no último domingo, aponta que a vantagem do candidato petista subiu para 11 pontos em relação ao seu adversário tucano.
A intenção de voto em Lula oscilou de 50% para 51%. Já Alckmin caiu três pontos, de 43% para 40%, em relação a pesquisa anterior publicada no último dia 6. Considerando apenas os votos válidos, excluindo brancos e nulos, o candidato do PT à reeleição tem 56% contra 44% do ex-governador de São Paulo. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos, para mais ou para menos.O Datafolha entrevistou 2.868 eleitores em 194 municípios de 25 Estados. A pesquisa foi registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número 21.972/2006.
Leia a pesquisa completa na edição desta quarta-feira da Folha de S.Paulo (só para assinantes).

10 de out. de 2006

Tiroteio pós-debate: Folha Online












Lula errou em acusação na TV, afirma líder do PT

Lula critica "pequenez" de Alckmin e diz que tucano só sabe privatizar

Líder do PSDB diz que Lula está desesperado e tenta criar fatos contra Alckmin

Lula diz que Alckmin é especialista em destruir o que ele construiu

Serra diz que Lula utilizou governo como "propriedade do PT"

Pergunta simples


Por que Lula não investigou?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz estar pronto para discutir corrupção e ética com o oponente, o tucano Geraldo Alckmin. Ministros, ex-ministros e aliados passaram a lembrar casos e suspeitas de corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso, presidente por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). E acusaram FHC e Alckmin de terem abafado CPIs quando presidente e governador.
Todo o governo diz: Lula quer debater, agora acha os confrontos na TV fundamentais para ganhar a eleição, está pronto para discutir ética, economia, política social.
No entanto, algumas perguntas sobre ética são pertinentes:
Se havia tantos casos de corrupção no governo FHC, porque o PT quer ressuscitá-los agora, quando não venceu no primeiro turno?
Por que Lula não mandou investigar tais acusações e suspeitas quando assumiu o poder em 2003?Se houve corrupção, o presidente não teria sido conivente ou omisso por não ter determinado apurações?
Se não houve corrupção, o presidente não estaria sendo leviano e jogando na confusão para fazer um contraponto ao mensalão e ao dossiêgate?
Se Lula está realmente preparado para debates, é importante que tenha respostas para essas perguntas. Do contrário, subestimará mais uma vez Alckmin. E poderá se dar muito mal.
No início do ano, quando o ex-governador de São Paulo foi escolhido candidato a presidente do PSDB, Lula disse a auxiliares que o achava mais perigoso do que José Serra, que perdera então a indicação partidária.
Motivo: Alckmin seria um fato novo, imprevisível. Já Serra, apesar do maior cacife nas pesquisas, foi derrotado pelo petista em 2002 e seria um inimigo conhecido. Portanto, mais previsível.
Com o passar tempo, a série de pesquisas que dava a Lula vitória em primeiro turno levou Alckmin a ser visto pela cúpula do governo como um chuchu marcado para perder. Não há dúvida de que o dossiêgate foi, sim, o maior responsável pela existência do segundo turno. A campanha de Alckmin comete um erro ao avaliar que haveria segundo fase independentemente do tiro no pé dado pelo PT.
No entanto, seria prudente o PT perceber que Alckmin atravessou o deserto com frieza e solidão incríveis. Talvez tenha tido algum mérito no cumprimento dessa tarefa. Talvez esteja mais para o adversário imprevisível do início do ano do que para o chuchu que apanhou calado na campanha do primeiro turno.
Kennedy Alencar, 38, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

Link para a coluna Pensata na Folha Online

Instituto Candango de Solidariedade aos LADRÕES

Correio Braziliense 10/10/2006
Atrás de desvios de R$ 1 bilhão

Investigadores procuram destino do restante do dinheiro público do Instituto Candango de Solidariedade. Devassa feita nas contas do ICS por integrantes de força-tarefa indicou irregularidades

Uma devassa realizada por auditores da Receita Federal e de outros órgãos do governo federal na contabilidade do Instituto Candango de Solidariedade (ICS) indica que a entidade filantrópica pode ter desviado nos últimos três anos quase R$ 1 bilhão de recursos repassados pelo Governo do Distrito Federal (GDF) e pelo Ministério da Saúde.
Investigação de força-tarefa da Receita Federal, Ministério Público e Polícia Federal indicou que R$ 26 milhões de recursos públicos foram parar na conta de empresas ligadas ao ex-presidente da entidade, Ronan Batista de Souza, e do atual, Lázaro Severo Rocha, conforme revelou o Correio na edição de domingo. Numa segunda fase de investigação, os auditores procuram agora o destino final do restante da bolada de recursos públicos que teve o destino modificado e ficou com dirigentes da instituição.
“Os R$ 26 milhões que encontramos é apenas uma migalha em relação ao montante de recursos desviados”, disse uma fonte ligada às investigações. Diante dos fortes indícios de desvio de recursos públicos, o Ministério Público de Contas do Distrito Federal adverte: “As irregularidades dos contratos de gestão, firmados com o ICS (Instituto Candango de Solidariedade), bem como as falhas e os desvirtuamentos constatados na execução do objeto contratual, são capazes de influenciar a regularidade das contas do governo”. O alerta de que os contratos com o ICS podem comprometer a prestação de contas do GDF está no relatório analítico e parecer prévio sobre os gastos do Executivo, referente a 2005, relatado pela conselheira do Tribunal de Contas do DF Marli Vinhadeli.
Em seis páginas, são listados 82 contratos sob suspeita do ICS com diferentes órgãos do GDF e identificados desvios como a falta de acompanhamento de execução, a contratação de mão-de-obra sem concurso público e a previsão de serviços sem estudo de viabilidade econômica. “As apurações existentes permitem concluir pela irregularidade da execução”, atesta o relatório.

Dossiê zoológico: deu avestruz na cabeça

Correio Braziliense - 10/10/2006
Dinheiro do jogo do bicho

Polícia Federal investiga se parte dos R$ 1,7 milhão apreendidos com petistas veio de bicheiros ou de caixa 2 de campanha

Marcelo Rocha - Enviado especial

Cuiabá — A Polícia Federal suspeita que parte do dinheiro arrecadado por petistas para a compra do dossiê contra o PSDB tenha origem em bancas do jogo do bicho no Rio. A linha de investigação foi debatida ontem durante encontro entre quatro integrantes da CPI dos Sanguessugas e o delegado Diógenes Curado, encarregado de desvendar de onde saíram os R$ 1,7 milhão (em notas de dólares e reais) que seriam usados na negociação do material que pudesse comprometer tucanos com os sanguessugas.
Os policiais também não descartaram a hipótese de que a procedência dos recursos seja de caixa 2 de campanha. Duas tiras de papel encontradas com os R$ 1,1 milhão e os US$ 248,8 mil que estavam em poder de Valdebran Padilha e Gedimar Passos, em São Paulo, chamaram a atenção dos investigadores. Elas trazem anotações de valores e fazem referência a duas localidades no Rio: Duque de Caxias e Campo Grande. Ao lado de cada nome, havia ainda um número que a polícia acreditava se referir a bancos (118 e 119, respectivamente). Após pesquisar a rede bancária, a PF constatou que não existem tais números.
Com isso, ganhou força entre os policiais a tese de que o dinheiro tenha origem no jogo do bicho. Também não foram descartadas outras fontes de recursos, como casas de bingo. A forma como o dinheiro foi encontrado também fez aumentar a desconfiança: boa parte em notas velhas e miúdas, de R$ 5 e R$ 10. “Essa foi uma operação digna de concorrer ao prêmio Nobel de burrice”, desabafou o deputado Paulo Rubem Santiago (PT-PE), um dos sub-relatores da CPI ao receber do delegado Diógenes Curado um panorama das investigações. Como integrante do partido, não lhe restou outra alternativa: cobrar explicações do presidente afastado da legenda. “Por maior ou menor grau de envolvimento, ele, como presidente do partido deveria ter abortado essa operação”, afirmou o pernambucano.

Fantasmas

CLÓVIS ROSSI

A assombração

É complicada a vida de um governante que, chamado reiteradamente de mentiroso por seu principal oponente do momento, não consegue demonstrar, em momento nenhum, que quem mente é o acusador. Aconteceu domingo com Luiz Inácio Lula da Silva ante um Geraldo Alckmin subitamente transformado de "picolé de chuchu" em atirador de facas.
O debate da Band serviu para demonstrar, uma vez mais, que, apertado, Lula entrega os companheiros sem a menor cerimônia para tentar livrar-se do fantasma que persegue o seu governo e o seu partido. Já havia ocorrido em entrevistas a William Bonner/Fátima Bernardes e, antes, a Pedro Bial, todos da Globo.
O presidente entrega seus auxiliares e seus amigos para poder refugiar-se no cantochão de que não pode saber de tudo o que acontece nos cantos de seu governo, em especial, os cantos escuros, que não são poucos.
Mesmo que seja verdadeiro, o argumento tem, por baixo, por baixo, dois graves inconvenientes: 1 - Dá a Alckmin um habeas corpus preventivo. Se Lula não sabe do que se passa em seu próprio governo, como Alckmin poderia saber, ainda mais quando a suspeita recai sobre governo alheio (no caso o de Fernando Henrique Cardoso)?
2 - Permite a dúvida que foi explicitada na pergunta do jornalista Franklin Martins. Se Lula não sabe das coisas, quem pode garantir que, no futuro, não se repitam os crimes cometidos (e confessados) às costas do presidente? Pior: quem pode garantir que neste exato minuto algum "aloprado", como diz Lula, não esteja tramando algum novo trambique em alguma sala do próprio Palácio do Planalto?
Significa dizer que a assombração continuará pairando sobre um eventual segundo governo Lula, mesmo que não seja suficiente para impedir agora a sua vitória.
crossi@uol.com.br
Link para a Folha de São Paulo: Assinantes

Ecos do Debate

Charge do dia - Glauco - Folha de São Paulo

Alckmin se diz "zen", acusa Lula de mentir e cobra origem de dinheiro
Alckmin agiu como "delegado de porta de cadeia", diz Lula
Tucano afirma que externou sentimento de revolta "que estava parado na garganta de todo mundo
Petista se queixa da falta de "nível" e afirma ter vivido um de seus dias mais tristes

9 de out. de 2006

Do blog do Noblat


Lula decepcionado com Alckmin


Lula se disse surpreso e decepcionado com a postura de Alckmin depois do debate de ontem na Rede Bandeirantes.

Jaques Wagner, eleito governador da Bahia, que voltou com Lula de São Paulo para Brasília, relatou que o presidente não esperava os ataques que recebeu no programa. Esperava que questões de programa de governo fossem o centro das discussões.

Diante da postura de Alckmin no primeiro debate, Lula avisou que vai se preparar melhor para rebater críticas nos próximos programas:

- Já entendi. A única coisa que eles querem é isso. Vou me preparar, embora quisesse discutir projetos -, disse Lula ao voltar para Brasília.

O próximo debate está marcado para a próxima segunda-feira na TV Gazeta. A conferir.

Link para o Blog do Noblat

Um homem de Opinião

Homenagem a Fernando Gasparian

Com a morte de Gasparian, fundador do jornal Opinião, está extinta a geração de empresários nacionalistas que foi combatida pela Ditadura Militar. Eram homens preocupados com um projeto nacional de desenvolvimento, que Gasparian simbolizava e em nome dos quais atuava na cena política.

Bernardo Kucinski

Passou quase despercebida na grande imprensa a morte na última sexta-feira (6) de Fernando Gasparian, o fundador do jornal Opinião, um dos mais importantes semanários de nossa história e referência da luta da imprensa alternativa contra a ditadura militar.
Conheci Gasparian e sua esposa em Londres no início de 1972, em pleno regime Médici. Com eu, ele estava em “exílio voluntário”. Eu havia saído de Veja com a equipe liderada por Raimundo Pereira, que trabalhou nas capas denunciando as torturas no Brasil. Gasparian e sua esposa estavam traumatizados com o seqüestro e assassinato, pelos militares, de seu grande amigo, o deputado federal também nacionalista Rubens Paiva.
Gasparian, dono da indústria têxtil América Fabril, era de uma geração de empresários nacionalistas que entrou em desgraça com o golpe militar de 1964. Suas empresas, em geral familiares, foram submetidas ao cerco econômico. Alguns deles, como Pignatari, sofreram confisco patrimonial e tiveram que fechar as portas ou suas empresas foram compradas na bacia das almas por grupos estrangeiros. Com a morte de Gasparian, pode-se declarar extinta essa geração de empresários nacionalistas, preocupados com um projeto nacional de desenvolvimento, que ele simbolizava e em nome dos quais atuava na cena política. Gasparian, em especial, era muito amigo de Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Barbosa Lima Sobrinho, Enio Silveira e outros intelectuais progressistas e/ou nacionalistas, que tentavam pensar um futuro para o Brasil. Tudo isso também foi interrompido de modo brutal pelo golpe militar.
Profundamente chocado, Gasparian pensava em lançar no Brasil um jornal moderno, que não tivesse com a ditadura a relação complacente da maioria dos jornalões brasileiros; um jornal que combatesse a ditadura militar e o entreguismo. Lembro que chegamos a visitar juntos uma feira de equipamentos gráficos em Londres. Indiquei a ele Raimundo Pereira como o jornalista capaz de liderar um projeto desse porte. Assim nasceu, poucos meses depois, o semanário Opinião.
Nessa época, outros empresários ou amigos de empresários também ajudaram a viabilizar projetos de imprensa alternativa de combate aberto ou velado ao regime militar. A revista Bondinho não teria existido sem a ajuda de Thomas Fárkas, dono da Fotóptica, e de Bresser Pereira, ligado ao grupo Pão de Açúcar (dai o nome Bondinho). Pasquim contou de início com apoio de Murilo Reis, dono de uma distribuidora de jornais e revistas.Mas Gasparian foi de todos o que mais se dedicou ao que poderíamos chamar de “mecenato político”, bancando todo o projeto desde o início, no segundo semestre de 1972, até sua última edição, 231 semanas depois, em abril de 1977. O projeto do Raimundo combinava o melhor da experiência de Veja, como semanário de atualidades que chegava simultaneamente a todas as grandes cidades brasileiras, e o melhor da imprensa mundial progressista da época, como o Le Monde, o The Guardian e o Financial Times. Gasparian fez acordos editoriais com todos eles, também como forma de blindar Opinião contra os ataques do regime militar. Richard Gott e Basil Davidson podiam ser lidos em Opinião. Também escreviam no semanário os principais intelectuais brasileiros da época, como Celso Furtado, Luciano Martins e Niemeyer. Com diagramação moderna e desenhos elegantes a bico de pena ao estilo do New York Times Review of Books, por Cássio Loredano e Luís Trimano, Opinião nasceu como se já tivesse cem anos de tradição.
Mas a força bruta da repressão prevaleceu sobre a qualidade e o cuidado editorial. Os tempos eram duros. Não por acaso, a capa do número zero era uma fina caricatura em bico de pena de Plínio Salgado, líder da extrema direita brasileira, que então se tornava cada vez mais forte junto ao governo Médici. A censura pegou Opinião já na nona edição e foi apertando o cerco até se tornar devastadora a partir da edição 23. Do material enviado para Brasília, metade era vetada ou mutilada.Quando Gasparian fechou o jornal, em abril de 77, Geisel fechava o Congresso, para baixar o famoso “pacote de abril”, que mudou as regras do jogo eleitoral numa tentativa de manter artificialmente uma maioria conservadora. De Médici a Geisel, esses foram os tempos vividos por Opinião. Tempos de resistência. Opinião tornou-se um símbolo de imprensa de resistência e Gasparian, sem dúvida está no céu, nem que seja só por isso.
Bernardo Kucinski, jornalista e professor da Universidade de São Paulo, é editor-associado da Carta Maior. É autor, entre outros, de “A síndrome da antena parabólica: ética no jornalismo brasileiro” (1996) e “As Cartas Ácidas da campanha de Lula de 1998” (2000).

Primeiro Roud II

Blog do Josias de Souza

Alckmin venceu o debate com Lula por um ponto: '?'

O tête-à-tête deste domingo deu o tom do que será a campanha presidencial no segundo turno. Quando um quer, dois acabam brigando. E Alckmin demonstrou que quer brigar. Foi ao ringue da TV Bandeirante de luvas em punho. Saiu distribuindo “chuchutes”. Venceu a luta por um ponto. O ponto de interrogação.

Como previsto, o debate converteu-se em luta de boxe. Uma luta em que Lula entrou, na maior parte dos cinco rounds, com a cara. Beneficiado pelo sorteio, coube a Alckmin a primeira pergunta. Poderia tê-la usado para fustigar o adversário com jabs de esquerda. Mas não perdeu tempo com golpes preparatórios.

Alckmin desferiu logo um direto de direita no calcanhar-de-aquiles de Lula. “De onde veio o dinheiro sujo, R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo, para comprar dossiê fajuto”? No contragolpe, Lula tentou respirar: “Quero saber quem arquitetou esse plano maquiavélico, quero saber qual é o conteúdo do dossiê, de onde vem o dinheiro. O único ganhador nesse trambique foi a candidatura do meu adversário (...)”.
Na réplica, porém, Alckmin empurrou o adversário para o córner: “Olha nos olhos do povo brasileiro e responda: de onde veio o dinheiro”? Lula não tinha resposta: “Não sou policial, sou presidente da Republica. O governador ainda tem saudade do tempo da tortura (...).” E Alckmin, algumas perguntas depois: “A questão do dinheiro, não precisa fazer tortura para saber de onde veio o dinheiro. É só perguntar para o PT (...). É só chamar os seus amigos de 30 anos e perguntar.”
Essa primeira troca de golpes deu o tom do embate, que girou em torno da ética por duas horas e meia. A grande novidade foi o timbre de Alckmin. De chuchu aguado, o candidato converteu-se em pimenta ardida. Manteve-se no ataque durante todo o tempo.
Lula também desferiu os seus socos. Martelou perversões da era FHC e do governo de Alckmin em São Paulo –as privatizações mal explicadas, a compra de votos da reeleição, o caixa dois de Eduardo Azeredo, a paternidade tucana das sanguessugas e dos vampiros, Barjas Negri, Abel Pereira, as 69 CPIs enterradas. Mas seus ataques vieram sempre na forma de contra-golpes de um lutador acuado.
Embora relevantes, os casos que Lula mencionou, por antigos, não têm a mesma materialidade plástica da montanha de dinheiro (R$ 1,7 milhão) que ninguém sabe de onde veio. Para desassossego de Lula, nos poucos instantes em que se discutiu programa de governo, o presidente não teve nem tempo nem organização mental para expor as coisas boas que julga ter realizado em quatro anos de mandato.
Alckmin subiu ao tablado com uma missão: não deixar o adversário respirar. Para atingir o seu intento, não hesitou em apelar para os golpes baixos, como nos instantes em que trouxe os gastos com os cartões de crédito da presidência e a compra do Aerolula. Chegou mesmo a dizer, se eleito, venderá o avião presidencial para construir cinco hospitais. Como se isso fosse resolver os problemas do país.
Em certos momentos, o boxe resvalou para a briga de rua. Alckmin chamou Lula de mentiroso em três oportunidades. Numa delas, o presidente pediu direito de resposta, negado pelos organizadores do debate. Revidou chamando Alckmin de leviano.
O Lula que foi aos estúdios da Bandeirantes não fez jus ao polemista experimentado dos embates de assembléias sindicais e de disputas presidenciais anteriores. O presidente apanhou nos dois primeiros rounds. Só não foi a nocaute porque recobrou os sentidos nos dois rounds seguintes.
Embora não tenha tido desempenho capaz de anular a vantagem do rival, Lula voltou à luta. Recuperou até a capacidade de produzir ironias, como no instante em que aconselhou o candidato a retomar o figurino leguminoso: “Sem essa coisa de ficar bravo. Não faz o seu gênero. Eu te conheço e sei que não faz o seu gênero”. Ou quando chamou o vice de Alckmin, José Jorge, de rei do apagão. No quinto e último round mantiveram-se as posições.
Analisando-se o conjunto da refrega, o desempenho de Lula foi inegavelmente inferior ao de Alckmin. A pergunta é: isso muda o cenário eleitoral? Debates, por maior audiência que possam ter (o de hoje teve audiência média de 14,2 pontos), não têm o condão de virar o jogo de uma eleição. É a repercussão do confronto e os seus desdobramentos no noticiário e na campanha, que podem influir no resultado da peleja. Dificilmente o eleitores de Lula e de Alckmin mudarão de opinião a essa altura do campeonato. Está em jogo principalmente a conquista dos indecisos. E Lula entrou na briga com uma enorme interrogação a pesar-lhe sobre os ombros: de onde veio o dinheiro? É esse o ponto de interrogação que deu vantagem a Alckmin no debate deste domingo.

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Charge do dia - Angeli


Folha de São Paulo 08/10/2006

Primeiro Round 1

Gilberto Dimenstein

Muito show, poucas idéias

O debate foi um belíssimo show, por manter, por mais de duas horas, a tensão entre os candidatos Lula e Alckmin. Não houve um único instante ameno, insosso, sonolento --nesse aspecto foi um notável resultado jornalístico, graças à flexibilidade para que os candidatos pudessem se expressar.
O problema é que faltou o essencial para quem queria ir além do show.
Se o espetáculo foi revelador do tom da campanha e da estratégia de marketing das candidaturas --e até revelou um Alckmin especialmente agressivo--, o telespectador mais crítico, interessado em soluções, certamente saiu frustrado.
Afinal, a grande questão nacional é hoje saber como vamos crescer mais rapidamente nos próximos anos para reduzir a miséria, aumentar o nível de emprego e elevar a renda. Sabe-se que cortes nos gastos públicos terão de ser feitos. Mas quando, onde e como? Quem vai perder. O que fazer para estancar os buracos provocados pelas aposentadorias? Certamente não se vai modificar muita coisa fechando alguns ministérios, economizando dinheiro dos gastos dos assessores e ministros nem vendendo o Aerolula.
Foi um ótimo entretenimento e ajudou a expor mais os candidatos para a escolha do eleitor. Mas, se alguém queria propostas, soluções, foi dormir de mãos vazias.
 
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