Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


10 de out. de 2006

Pergunta simples


Por que Lula não investigou?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva diz estar pronto para discutir corrupção e ética com o oponente, o tucano Geraldo Alckmin. Ministros, ex-ministros e aliados passaram a lembrar casos e suspeitas de corrupção do governo Fernando Henrique Cardoso, presidente por dois mandatos (1995-1998 e 1999-2002). E acusaram FHC e Alckmin de terem abafado CPIs quando presidente e governador.
Todo o governo diz: Lula quer debater, agora acha os confrontos na TV fundamentais para ganhar a eleição, está pronto para discutir ética, economia, política social.
No entanto, algumas perguntas sobre ética são pertinentes:
Se havia tantos casos de corrupção no governo FHC, porque o PT quer ressuscitá-los agora, quando não venceu no primeiro turno?
Por que Lula não mandou investigar tais acusações e suspeitas quando assumiu o poder em 2003?Se houve corrupção, o presidente não teria sido conivente ou omisso por não ter determinado apurações?
Se não houve corrupção, o presidente não estaria sendo leviano e jogando na confusão para fazer um contraponto ao mensalão e ao dossiêgate?
Se Lula está realmente preparado para debates, é importante que tenha respostas para essas perguntas. Do contrário, subestimará mais uma vez Alckmin. E poderá se dar muito mal.
No início do ano, quando o ex-governador de São Paulo foi escolhido candidato a presidente do PSDB, Lula disse a auxiliares que o achava mais perigoso do que José Serra, que perdera então a indicação partidária.
Motivo: Alckmin seria um fato novo, imprevisível. Já Serra, apesar do maior cacife nas pesquisas, foi derrotado pelo petista em 2002 e seria um inimigo conhecido. Portanto, mais previsível.
Com o passar tempo, a série de pesquisas que dava a Lula vitória em primeiro turno levou Alckmin a ser visto pela cúpula do governo como um chuchu marcado para perder. Não há dúvida de que o dossiêgate foi, sim, o maior responsável pela existência do segundo turno. A campanha de Alckmin comete um erro ao avaliar que haveria segundo fase independentemente do tiro no pé dado pelo PT.
No entanto, seria prudente o PT perceber que Alckmin atravessou o deserto com frieza e solidão incríveis. Talvez tenha tido algum mérito no cumprimento dessa tarefa. Talvez esteja mais para o adversário imprevisível do início do ano do que para o chuchu que apanhou calado na campanha do primeiro turno.
Kennedy Alencar, 38, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos.

Link para a coluna Pensata na Folha Online

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