Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


4 de out. de 2006

Zumbis

Pensata - Eliane Cantanhêde

A volta dos que não foram

A declaração de voto do governador Lúcio Alcântara (PSDB-CE) em Geraldo Alckmin é emblemática do que vai acontecer neste segundo turno. Ou melhor, já está acontecendo: os tucanos e pefelistas que puxavam o saco de Lula, dando como líquida e certa a vitória em primeiro turno, estão de volta ao ninho.
Alcântara rompeu com o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, que preferiu tirar o apoio à sua reeleição e despejar em Cid Gomes, do PSB, aliado de Lula e irmão do ex-ministro Ciro Gomes (um dos deputados mais bem votados do país). O governador ficou uma fera, e quem pagou o pato foi Alckmin. Numa cena de traição explícita, Lúcio Alcântara foi ao Planalto confraternizar com Lula no meio do primeiro turno. Perdeu a eleição para Cid e, agora, mal começou o segundo, já dá meia volta e declara voto em Alckmin. Durma-se com um barulho desses. Ou durma-se com uma política dessas...
A imprensa, sempre acusada de ser 'tucana', passou a campanha mostrando um Alckmin às traças, abandonado pelo PSDB, pelo PFL, pelos candidatos a governador, por gregos e troianos, sem vigor e sem chances. Não se passou um dia sem uma 'crise' na campanha, demonstrando fragilidade. Agora, pelo visto, estão todos de volta.O PFL, que chegou a anunciar o fim da velha aliança com o PSDB depois da eleição (lia-se: depois da derrota de Alckmin), agora é alckmista desde criancinha e para todo o sempre, amém. E reconhecendo que, sem os tucanos, a vida pode ficar muito dura. O partido perdeu Estados importantes, como a Bahia, está ameaçado em Pernambuco, disputa um surpreendente segundo turno no Maranhão e só levou um governo no primeiro turno: o do DF, com José Roberto Arruda.Sem poder (e sem cargos) nos Estados, o jeito é apoiar Alckmin e rezar para ele ganhar, para poder se pendurar no governo federal. Caso contrário, só sobra o Senado para os pefelistas reinarem. Ali, ele ficam com uma bancada de 18 senadores, a maior da Casa. E, pela tradição, cabe à maior bancada fazer o presidente.No PSDB, criou-se uma situação curiosa: foram meses de análises mostrando que Alckmin não estava com nada e enfatizando a força e as projeções de José Serra e Aécio Neves no cenário nacional, já que ambos estiveram na frente das pesquisas do início ao fim e acabaram mesmo se elegendo em primeiro turno em São Paulo e Minas. Esqueceram-se todos de combinar com o adversário --o adversário de Lula. Pois quem emerge forte da eleição, até pela surpresa, é Alckmin.Se ele ganhar, será que topa acabar com a reeleição? Duvide-o-dó. Depois de uma trajetória solitária no primeiro turno, agora ele não tem por que dar essa colher de chá aos companheiros tucanos. Vai fazer de tudo para ficar 8 anos. E Serra terá 72 anos em 2014.

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