Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


17 de ago. de 2006

Série: Tudo como dantes no quartel d'Abrantes!

Correio Brasiliense - 17 de agosto de 2006.

Cargos especiais usados para empregar afilhados. Assessores acomodados em funções técnicas estão lotados em estados. Há casos também de funcionários fantasmas.
Fabíola Góis e Lúcio VazDa equipe do Correio

Gandhy Lua Queiroz Andrade Patriota, filha do deputado Gonzaga Patriota (PSB-PE), não trabalha em Brasília nem em Pernambuco, estado de origem do parlamentar. Ela mora em Salvador. Gandhy é uma das ocupantes de cargo de natureza especial (CNE) da Câmara dos Deputados. Caso típico de nepotismo. Não satisfeito, Patriota deslocou dois de seus funcionários, Paulo de Lorena e Sá Filho e Rocksana Belmárcia Príncipe, contratados sob a rubrica de CNE para trabalhar em Pernambuco. Um bom reforço na campanha eleitoral.
A liderança dos partidos políticos na Câmara também usa os cargos criados para órgãos técnicos como reforço dos quadros de funcionários. O PSol tem nove servidores com CNEs cedidos pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Quando foi criada, a liderança não contava com quadro de assessores. Os CNEs foram então desviados de órgãos como a Diretoria Legislativa e a Coordenação de Registro Funcional. A deputada Luciana Genro (PSol-RS) era a líder na época. Ela assina todas as indicações.
O deputado Delfim Netto (PMDB-SP) apadrinhou três CNEs. Uma de suas assessoras, Chrystiane Vieira, está há um ano emprestada para o deputado José Mentor (PT-SP). Ela foi ajudar o parlamentar a preparar a defesa dele na acusação de envolvimento com o mensalão. Outro dos indicados trabalha efetivamente na TV Câmara.
Entre os 149 deputados que fizeram indicações para CNEs, 22 são acusados de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. Quem mais empregou apadrinhados foi o segundo-secretário da Câmara, Nilton Capixaba (PTB-RO). Ele preencheu 31 cargos (veja quadro). A negociação para o preenchimento dos cargos é informal. Os deputados mais bem relacionados com a direção da Casa ganham vagas para seus afilhados. Esses assessores acompanham os padrinhos nas suas passagens pelos cargos da Mesa e liderança dos partidos. Alguns permanecem mesmo após o parlamentar ter deixado o mandato.
O deputado Devanir Ribeiro (PT-SP) conta como agiu. “Vou pelas regras da Casa. Quando soube que tinha (cargo), fui lá e pedi.” Um de seus funcionários, Sérgio Ribeiro, que não é seu parente, mora e trabalha em São Paulo.
O deputado Homero Barreto (PTB-TO), além de contratar a sobrinha Isolda Eline Barreto Nunes em cargo de comissão, tem um de seus funcionários, Antonio Alves de Oliveira, com CNE trabalhando em Tocantins, apesar de a lotação oficial ser em Brasília. O deputado Renildo Calheiros (PCdoB-PE) não faz diferente com seus cargos comissionados. A funcionária Yolande Marie Cavoret trabalha em Pernambuco, mesmo devendo ficar na Câmara. Já Francina Sena, que deveria dividir seu tempo entre o gabinete e a liderança do partido na Casa, se dedica mais às campanhas políticas do partido.
Alguns dos servidores nomeados para CNEs são desconhecidos até mesmo dos funcionários e dos deputados. No gabinete de José Múcio Monteiro (PTB-PE), ninguém conhece Luiz Wilson Ulisses Sampaio Filho, embora ele conste na lista dos cargos em comissão do parlamentar. “Ele deve trabalhar fora”, avisa um funcionário, depois de conferir que o nome está na listagem de servidores do gabinete.
O chefe de gabinete do deputado Paulo Magalhães (PFL-BA), Gener Morais, não conhece a funcionária Christiane Pessoa de Melo. Ela está lotada efetivamente no Centro de Formação, Treinamento e Aperfeiçoamento (Cefor), ainda que Morais não saiba explicar como ela foi parar na seção. O levantamento obtido pelo Correio apresenta seis apadrinhados do deputado Barbosa Neto (PSB-GO). Ele afirmou que conhece apenas dois dos nomeados e assegurou que ambos já foram afastados do cargo. “Vou pedir a exoneração de todos eles. Não são indicações minha”, explicou.
Sanguessugas “padrinhos”: Benjamim Maranhão (PMDB-PB) 1 Carlos Dunga (PTB-PB) 1 Benedito Dias (PP-AP) 3 Edna Macedo (PTB-SP) 1 Elaine Costa (PTB-RJ) 1 Enivaldo Ribeiro (PP-PB) 1 Heleno Silva (PL-SE) 1 Ildeu Araújo (PP-SP) 1 João Caldas (PL-AL) 15 João Magalhães (PMDB-MG) 1 Júnior Betão (PL-AC) 2 Marcelino Fraga (PMDB-ES) 1 Maurício Rabelo (PL-TO) 1 Nilton Capixaba (PTB-RO) 31 Osmânio Pereira (PTB-MG) 1 Pastor Amarildo (PSC-TO) 16 Raimundo Santos (PL-PA) 1 Ricardo Rique (PL-PB) 2 Ricarte de Freitas (PTB-MT) 2 Vanderlei Assis (PP-SP) 1 Wellington Fagundes (PL-MT) 2 Wellington Roberto (PL-PB) 1

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