
CLÓVIS ROSSI
Troca de motosserra
SÃO PAULO - É comovente a evolução ética do petismo nos últimos tempos. Começou com a constatação do ator petista Paulo Betti segundo quem não se faz política sem pôr a mão em matéria fecal. Dias depois, o presidente Lula referendou a tese ao dizer: "Política a gente faz com o que a gente tem. Não com o que a gente quer".
Agora vem o complemento, na boca de um dos raros petistas que é estrela ascendente, o governador acreano Jorge Viana. Na bela reportagem de Fábio Zanini, ontem publicada por esta Folha, Viana justifica assim sua aliança com os políticos que antes considerava delinquentes: "Qualquer apoio estamos aceitando com gosto". O "qualquer" inclui o pessoal ligado a Hildebrando Pascoal, sim, aquele mesmo que está preso há sete anos por mandar matar um adversário com uma motosserra.
Ou seja, antes o PT era contra "tudo o que está aí"; mais recentemente, passou a aceitar o que está aí por ser supostamente tudo o que "a gente tem". Agora, não é apenas aceitação conformada, mas "com gosto". Não significa, como já mostrou na semana passada Renata Lo Prete, que o PT vá desaparecer ou murchar. Vai apenas ser um novo PMDB. Partido sem cara, sem cheiro (não vale pensar em Paulo Betti), sem identidade, mas que, não obstante, está sempre entre os três mais votados para o Congresso, quando não é o mais votado. Viverá da tradição política brasileira, do caciquismo/coronelismo, sustentado por vínculos com o poder público (municipal, estadual ou federal ou todos juntos).
Há 40 ou 50 anos, a oligarquia maranhense era comandada por Victorino Freire, desbancado por um jovem chamado José Sarney. Mudou o Maranhão? Não, mudou o novo dono político do pedaço. Assim como no Acre: sai a motosserra, entram Jorge Viana e o PT.
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