Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


13 de set. de 2006

Série: A Ética do Poder

Folha de São Paulo - 13/09/2006

FERNANDO RODRIGUES

Valores em falta

BRASÍLIA - É difícil saber o que é pior no episódio do fim de semana prolongado de 47 juízes num hotel de luxo em Comandatuba, tudo pago pela Febraban. Há o fato em si, desgastante para a imagem do Judiciário. Mas há também a explicação dos magistrados, que nada enxergam de errado.
Um dos juízes alega ter feito um "sacrifício". Foi cumprir o "preceito constitucional" de manter interlocução do Judiciário com a sociedade. Pago pelos bancos. De cada 100 ações analisadas pelo Superior Tribunal de Justiça, cerca de 30 têm relação com os bancos. Os associados da Febraban são os maiores clientes da Justiça. Num país com normalidade democrática e valores assentados, a sociedade tenderia a repelir tal relação. No Brasil, não.
Essa atitude leniente com os modos e os costumes é muito disseminada nas instituições nacionais. Questionados, os protagonistas reagem como se estivessem sendo agredidos quando o assunto é apresentado em público.
Tome-se também o caso da Petrobras. A estatal tem feito muito mais ações sociais em prefeituras aliadas a Lula. As de oposição ficam para o fim da fila. Ontem, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, irritou-se com a reportagem da Folha que mostrava a divisão partidária dos gastos da empresa. "Eu acho que é um escândalo a Folha insinuar que o critério da distribuição de recursos da Petrobras seria um critério partidário".
Ora, não houve insinuação. Foram apresentados números. Mas o doutor resolveu ficar indignado. No fundo, são poucos os agentes públicos acostumados a conviver com o contraditório. Admitir um erro e corrigir uma conduta é raro. Os valores são frágeis. Pior: nenhum candidato a presidente trata desse tema de maneira correta.

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