Fragmentos: Dentro da noite veloz - Ferreira Gullar

A vida muda como a cor dos frutos lentamente e para sempre. A vida muda como a flor em fruto velozmente.
A vida muda como a água em folhas o sonho em luz elétrica a rosa desembrulha do carbono o pássaro da boca mas quando for tempo.
E é tempo todo o tempo mas não basta um século para fazer a pétala que um só minuto faz ou não mas a vida muda a vida muda o morto em multidão.


20 de ago. de 2006

Série: Nesta eleição não vote em ladrão, sanguessuga, mensalão...

Correio Braziliense (DF) - 9/7/2006

Não vote em mensaleiro
Claudio Weber Abramo

Copa do Mundo, no Brasil, é coisa séria. Não só para o torcedor habitual, mas, também, para todo um contigente de pessoas que, normalmente, não dá um tostão furado para o futebol. É o caso deste que escreve, que seria incapaz de ranquear times ou discorrer sobre por que o Ronaldinho Gaúcho se transformou, em campo, em Belo Antônio.

Mas uma coisa sei - que o discurso pragmático do técnico Carlos Alberto Parreira era só para inglês ver. Disfarçava o vazio de idéias e o compromisso com a embromação como meio de vida. Pragmatismo não é vencer jogos contra times irrelevantes. Pragmatismo é manter-se aceso ao que a realidade ensina, processar essas informações e agir de acordo. Foi o que não se viu durante a malograda gestão Parreira à frente da seleção brasileira de futebol.

Eleições são um pouco como uma Copa do Mundo. Uma das diferenças é que as conseqüências de eleições para a vida das pessoas são muito mais profundas do que meia dúzia de partidas de futebol. Digamos, então, que o eventual leitor não seja o Parreira, mas alguém dotado de um mínimo de apego à materialidade da vida, e digamos que precise escalar um time legislativo.
O plantel que tem à sua disposição inclui diversos parlamentares com ficha limpa, mas, também, é povoado por quase duas centenas de comes-e-dormes que respondem a processos na Justiça por crimes diversos. Do mensalão ao contrabando e ao tráfico de drogas, inúmeros deputados federais processados na Justiça buscam reeleição este ano. O mesmo pretendem diversos ex-ministros, ex-governadores, ex-prefeitos de capital com fichas pesadíssimas.
Pois bem, será que, na eleição, de fato vale a pena insistir na escalação dessa gente? Será que faz sentido votar, ou apoiar eleitoralmente, um sujeito indiciado no caso do mensalão, ou dos sanguessugas, ou que responda na Justiça por crime de responsabilidade ou assassinato? Parreira insistiu na escalação de gente que se mostrava despreparada para, no campo, cumprir o papel que lhes caberia. Ao fazê-lo, agiu de forma antipragmática.

É o que fará o eleitor se permitir que mensaleiros, vampiros e outros [Trecho suprimido por determinação do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, acatando parcialmente reclamação formulada pela coligação PT-PC do B. Decisão final dependente de julgamento de recurso.] retornem à Câmara dos Deputados. A metáfora futebolística cessa por aqui, pois ser derrotado antes da hora numa Copa do Mundo não traz nenhuma diferença para a vida das pessoas. Já permitir que pessoas indiciadas em processos criminais sejam eleitas para o Congresso Nacional é dar tiro no próprio pé. Literalmente, é entregar o ouro para o bandido.

Não se deve permitir que mensaleiros e companhia bela sejam reeleitos. Para ajudar a evitá-lo, a Transparência Brasil lançou a campanha "Não vote em mensaleiro". A campanha se instrumentalizará com diferentes iniciativas, a principal sendo a publicação, no final de julho, de um banco de dados na internet com os históricos de todos os candidatos à reeleição à Câmara dos Deputados, e mais as fichas de indivíduos notórios que se candidatarem. Isso permitirá que o eleitor compare o currículo de vida de gente com passado limpo com as folhas-corridas de pessoas sobre as quais pesam suspeitas cabeludas.

Uma campanha como essa só pode ter chance de atingir contingentes maiores do eleitorado se adotada por veículos de comunicação. De fato, muito pouca gente tem acesso à internet, e ainda assim só uma pequena parcela se inteirará dos históricos dos candidatos. Aderir à campanha é simples - basta adotar o slogan "Não vote em mensaleiro", divulgá-lo e informar o endereço de internet da Transparência Brasil (www.transparencia.org.br).

Os veículos que fizerem isso contribuirão para a melhoria do processo político brasileiro. Ajudando a barrar a eleição de pessoas indiciadas como réus em processos criminais, evitarão cometer a parreirada de reincidir teimosamente nos erros.

Claudio Weber Abramo
Diretor-executivo da Transparência Brasil, organização dedicada ao combate à corrupção no país
www.transparencia.org.br

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